ABDA - Associação Brasileira do Déficit de Atenção
Por Denise Ferreira Ghigiarelli*
Por muito tempo o TDAH foi
considerado um transtorno da infância. Somente nos anos 90 se estabeleceu
definitivamente a persistência do transtorno na vida adulta. A desatenção é o
sintoma que frequentemente persiste na idade adulta, podendo haver uma redução
da hiperatividade e da impulsividade.
Os sintomas do TDAH na fase
adulta podem ocasionar prejuízos no trabalho, nas relações sociais e amorosas,
problemas com condução de veículos, drogas, crimes, imagem corporal, autoestima
e queixas de dificuldades com a memória, dificuldades com lazer,
espiritualidade, segurança, relações sexuais, ambiente familiar...
Estudos recentes sugerem que se
inclua a desregulação emocional como sendo um sintoma fundamental no TDAH
adulto. A emoção conglomera processos de avaliação, sensação física,
comportamento motor, intencionalidade e expressão interpessoal; desempenha a
função básica de auxiliar uma pessoa na avaliação de alternativas, ao oferecer
motivação e revelar necessidades e perigos. Portanto, regular as emoções
representa uma habilidade fundamental para a interação social.
Desta forma, a desregulação
emocional pode ser definida como a dificuldade ou inabilidade de lidar com as
experiências ou processar as emoções, podendo se manifestar como intensificação
excessiva ou como desativação das emoções.
Para regular as emoções, o
indivíduo necessita usar estratégias para enfrentamento das mesmas, quando este
se depara com a intencionalidade emocional indesejada. Autorregulação das
emoções seria como um termostato homeostático que regula e mantem as emoções em
níveis controláveis.
Dada a relevância das emoções
como moduladoras do comportamento e de sua interpretação, é possível inferir a
importância de sua alteração patológica, ou seja, a Desregulação Emocional.
Tanto a intensificação excessiva, que pode ser sentida pelo indivíduo como
indesejada, resultando em pânico, terror, trauma, temor ou senso de urgência,
de forma que o indivíduo se sinta sobrecarregado e com dificuldade de tolerar
tais emoções, como a desativação excessiva de emoções, podem impedir o
processamento emocional adequado, criando um tipo de enfrentamento
caracterizado pela esquiva.
Entre muitos sintomas
característicos do TDAH no adulto podem-se agrupar três categorias de muita
importância: baixa inibição, baixo autocontrole e problemas nas funções
executivas, sendo estes grupos interrelacionados. A baixa inibição estaria
relacionada à dificuldade do indivíduo parar e pensar no ato antes de fazê-lo,
agindo assim com impulsividade. O autocontrole são reações dirigidas a si, ou
ao seu comportamento que poderia ajudar a “fazer” algo diferente do que o
impulso manda. A função executiva se refere às ações autodirecionadas que são
usadas para o controle, sendo eles inibição, memória de trabalho, planejamento
e atenção, e controle emocional. Sendo assim, os indivíduos adultos com TDAH
apresentam reações emocionais impulsivas em diversas situações justamente
porque eles têm dificuldade de autocontrolar a reação inicial, e também usar de
ações direcionadas e autodirigidas que os ajudariam a acalmar as emoções. Ou
seja, a autorregulação é um importante mecanismo para guiar, moderar a emoção e
organizar a ação. E tendo dificuldade de inibir as emoções, o indivíduo com
TDAH apresenta baixa tolerância à frustração, impaciência e baixo controle
cognitivo. Adultos diagnosticados com TDAH geralmente vêm de uma infância
marcada por dificuldades, expressam um comportamento bastante mal adaptado e
deveriam ser reconhecidos como indivíduos que, por definição, lutaram com
dificuldades psicossociais duradouras.
Embora o TDAH venha sendo
estudado há anos através do foco na dificuldade cognitiva, a perspectiva da
regulação da emoção parece que pode levar a uma melhor compreensão deste
transtorno. O adulto com TDAH frequentemente sofre de oscilações do humor que
podem ser pequenas contrariedades ou mesmo ocorrências menores, sem
importância, do cotidiano. Além de
alterações de humor, os portadores de TDAH podem perder o interesse rapidamente
pelas coisas e precisam de novidades para se sentir estimulados, revelando uma
mistura de incapacidade em manter-se com energia e disposição suficientes para
sustentar algo, ainda enfrentando a inquietude própria do transtorno. Mudam de
planos constantemente, na maioria das vezes sem prévia consulta aos outros, o
que gera muitos conflitos nas relações. Por terem dificuldade de monitorar seu
próprio comportamento, avaliam as consequências de seus atos somente depois que
já praticaram a ação.
TRATAMENTO
O tratamento do TDAH deve ser
multimodal e inclui orientação, tratamento psicoterápico e uso de
psicofármacos. O tratamento da Desregulação Emocional no TDAH deve colaborar
para que a pessoa desenvolva hábitos e capacidade de tolerar suas emoções, a
fim de lidar melhor com os desafios do cotidiano.
A Terapia Cognitivo
Comportamental (TCC) é hoje a mais indicada para o tratamento do TDAH por ser
vista como um conjunto de intervenções relevantes para a regulação emocional,
pois inclui orientação e técnicas que colaborem na modificação de
comportamento, na estruturação do ambiente, no planejamento de atividades e no
manejo de sintomas.
Esta abordagem de psicoterapia
busca propor que não é a situação que determina o que as pessoas sentem, mas o
modo como interpretam a realidade à sua volta. Sugere também que o pensamento
distorcido pode influenciar o humor e o comportamento do indivíduo. Sendo
assim, o terapeuta auxilia o paciente a descobrir não só os eventos do ambiente
que determinam os comportamentos-problemas, mas também a identificar e atuar
sobre o que mantém estes comportamentos, como os pensamentos distorcidos.
A TCC utiliza lineamento de
habilidades sociais, conversação, resolução de conflitos, controle da raiva,
estratégias específicas que reforce o comportamento adaptativo social e diminua
ou elimine o comportamento desadaptativo, por exemplo, através de técnicas de
reforço positivo. Tais técnicas podem ajudar a diminuir as deficiências no dia
a dia e administrar os sintomas, tornando os comportamentos desadaptativos
menos frequentes e desta maneira menos estressantes.
A reestruturação cognitiva é uma
eficaz estratégia “antecedente” de regulação emocional, pois modificando a
interpretação dos eventos, o indivíduo pode efetivamente reduzir o impacto
emocional.
Partindo do entendimento da
neurobiologia das emoções e do seu papel na etiologia de diversos transtornos
psiquiátricos, a Regulação Emocional surge então, no contexto da psicoterapia
como um conjunto de habilidades adaptativas, que inclui a capacidade de
identificar emoções e compreendê-las, controlando a emergência de
comportamentos impulsivos e possibilitando o uso de estratégias adaptativas
para ajustar a resposta emocional.
* Psicóloga Clínica-CRP 06/107690 - Especialização
em Terapia Cognitivo Comportamental-HCFM-USP
FONTE: GHIGIARELLI, Denise
Ferreira. O TDAH adulto e o processamento
das emoções. IN: ABDA – Associação Brasileira do Déficit de Atenção. Texto
publicado em 26/06/2014. Disponível em: http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/1076-o-tdah-no-adulto-e-o-processamento-das-emocoes.html#sthash.MEKYJm9a.dpuf.
Acesso: 25/08/2014.
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